terça-feira, junho 06, 2006

"Novo plano do Alqueva prevê 22.500 camas turísticas"

Nos termos de um artigo do jornalista Carlos Dias, constante do Público de hoje,"O administrador delegado da Gestalqueva, Bento Rosado, revelou na passada semana, durante um debate na Escola Superior Agrária de Beja, que 'já foram anunciadas intenções de construir, em redor de Alqueva, 11 grandes unidades turísticas que, no seu conjunto, somam 22.500 camas'.
Bento Rosado acredita que estes projectos 'podem garantir a viabilidade do empreendimento, se forem feitos com rigor', e podem vir a representar 'uma ajuda para superar os problemas de desertificação e subdesenvolvimento' da área da região alentejana sob influência da grande barragem.
Esta decisão representa uma alteração muito significativa na política de ordenamento prevista, em 2002, para Alqueva e por José Sócrates enquanto ministro do Ambiente. Com efeito o Plano de Ordenamento das Albufeiras de Alqueva e Pedrógão (POAAP), que ele fez aprovar e que neste momento se encontra em fase de revisão, impunha para a área envolvente dos 500 metros a contar do Nível de Pleno Armazenamento (NPA) da albufeira, apenas seis unidades turísticas que, no seu conjunto, ofereciam uma capacidade máxima de 480 camas.
Questionado sobre o impacto que a grande dimensão dos projectos pode vir a provocar num espaço ambientalmente preservado, o administrador delegado da Gestalqueva considerou que era 'inevitável o aparecimento de um razoável número de resorts, de aldeamentos turísticos e campos de golfe' na zona definida pelo POAAP. E destacou um pormenor: o perímetro da albufeira de Alqueva tem 1150 quilómetros de extensão, uma área superior à costa portuguesa. Este facto 'oferece condições excepcionais' para acolher grandes empreendimentos turísticos 'sem um impacte significativo', acentua Bento Rosado.
O novo plano de ordenamento não vai permitir a instalação de nenhum equipamento turístico 'com menos de quatro estrelas', para garantir um modelo de intervenção 'ancorado na realidade cultural e paisagística' da região que os vai receber, observou Bento Rosado.
Ao mesmo tempo que o Governo cria condições para que sejam instaladas as grandes unidades turísticas, os programas que a Gestalqueva se propôs dinamizar nas designadas aldeias ribeirinhas deparam-se com inesperados obstáculos. Os proprietários das casas devolutas, que poderiam acolher turismo de habitação, estão relutantes em participar no projecto. A aldeia de Alqueva é um dos casos. Existem 40 casas desabitadas e a precisar de obras de reparação. Mesmo assim, 'as pessoas não só não aderem à iniciativa como pedem por uma casa degradada o preço de um apartamento na Avenida da Liberdade', explica Bento Rosado. E nestas condições é difícil que um programa pensado para criar condições de sustentabilidade económica das aldeias ribeirinhas possa vir a ter sucesso.
João Madeira, empossado como vogal da Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas de Alqueva em Março, para coordenador da valência agrícola do empreendimento, apresentou, na passada semana, o seu pedido de demissão. Instado pelo PÚBLICO a comentar as razões da saída, o ainda administrador da EDIA alegou que 'não tinha perfil para o cargo', frisando que havia um desfasamento entre a leitura que 'fazia da minha tarefa e aquilo que me era solicitado'. O vogal diz que encarava o cargo segundo uma perspectiva 'eminentemente técnica' que, pelos vistos, não era suficiente para o desempenho de um cargo técnico. João Madeira escusou-se a tecer mais considerações, 'por não pretender alimentar polémicas', mas garante não existirem razões 'de natureza humana' por detrás desta decisão 'extemporânea'."